terça-feira, 11 de março de 2008

Exército

A história humana sempre foi permeada por guerras. É possível que nunca se tenha registrado um ano, desde o desenvolvimento da agricultura há milênios, sem matança entre grupos humanos. Com o passar do tempo e o desenvolvimento da tecnologia, as guerras tornaram-se cada vez mais mortais, culminando na destruição de 50 milhões de vidas durante a Segunda Guerra Mundial. Com o desenvolvimento de armas atômicas, essa equação mudou, pelo menos até agora, uma vez que seu poder de destruição é tão maciço que qualquer guerra em larga escala envolvendo bombas atômicas teria o potencial de transformar o mundo e escombros. Hoje em dia o risco de guerras abertas entre potências é muito baixo. As ameaças mais preocupantes estão no campo dos grupos terroristas e organizações clandestinas. A Guerra do século XXI é pela informação e tecnologia, não mais territorial.

Em cada nação, o exército tem papel diferente. De modo geral, países ditatoriais populosos e instáveis tendem a desenvolver grandes exércitos ofensivos. Isso ocorre porque o ditador de plantão percebe as vantagens de se apontar um inimigo externo para desviar a atenção da população. No Iraque de Sadam Hussein, por exemplo, o exército foi usado em pelo menos duas ocasiões para atacar os vizinhos (Irã e Kuwait). Isso permitiu à população esquecer temporariamente os problemas da miséria e concentração da renda do petróleo.

No caso de pequenas ditaduras com vizinhos poderosos, o exército é usado mais para defesa e controle da população. Em caso de insurreição, o ditador pode usar suas forças armadas para reprimir os rebeldes. Esse é o caso de diversas nações centro-africanas e asiáticas.

Nas democracias cercadas de ditaduras, a tendência é o desenvolvimento de um forte exército voltado para defesa de território e dissuasão dos inimigos. Para garantir a integridade territorial, esse tipo de País precisa investir pesadamente no exército de modo a manter uma constante superioridade militar sobre os vizinhos. O expoente mais claro dessa estratégia é o Estado de Israel.

Há também o caso das democracias com atuação e influência global, como os Estados Unidos. São investidas grandes somas na construção de um poder a nível mundial que possa apoiar os interesses estratégicos do País. Como sabemos, as forças armadas norte americanas têm desempenhado diversas funções de proteção dos cidadãos, bens e interesses dos EUA no mundo.

Por fim, existem os casos das democracias em regiões pacíficas. Dentre as milhares de guerras registradas pela história, nunca houve, até o momento, uma única guerra travada entre duas democracias. Por diversas vezes um campo de batalha assistiu o embate de forças ditatoriais contra outras forças ditatoriais ou de forças democráticas contra forças ditatoriais. No entanto, entre duas democracias ainda não houve. Esse intrigante fenômeno, identificado pelos cientistas políticos, foi apelidado de paz democrática. Para os Países que se encontram nesta situação, o exército não pode passar de instituição simbólica e ser usado exclusivamente para fins humanitários. Suíça e Noruega são exemplos desse tipo de sistema.

O mesmo deveria ocorrer no caso do Brasil. Excetuando-se as forças expedicionárias, nossa última guerra, a do Paraguai, ocorreu a mais de 140 anos atrás, quando nos aliamos a Argentina e Uruguai para combater uma nação dezenas de vezes menor. Desde aquela época, o exército brasileiro nunca mais se viu numa situação em que o território estivesse realmente ameaçado. Mesmo com um pequeno exército, o risco de o Brasil ser invadido pelos vizinhos é desprezível. Como não temos nenhuma ambição territorial nem força econômica para investir em algo parecido com o que os Estados Unidos fazem, fica clara a opção para um exército simbólico.

Acreditamos que o exército brasileiro deve ser mantido no menor tamanho possível, de modo que o custo total seja baixo e os recursos possam ser concentrados no que realmente importa: vigiar as fronteiras. Para essa função, o ideal é ter cada vez menos gente e cada vez mais tecnologia de vigilância. É preciso reduzir bastante o tamanho e o contingente das forças armada e eliminar equipamentos caros como tanques, aviões de combate e navios pesados. Com essas mudanças será possível investir mais em tecnologia de comunicação, comprar equipamentos de vigilância, veículos e embarcações leves e pagar melhor os profissionais remanescentes. Mesmo assim, ainda será possível economizar recursos dos cofres públicos.


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