terça-feira, 11 de março de 2008

Dedicatória

Vá até a cozinha e pegue um pedaço de pão. Coloque-o sobre a mesa e fique observando-o. Como é simples, aparentemente! O pão é um bem que pode ser adquirido por qualquer pessoa. Mesmo o miserável dos miseráveis pode esmolar no farol uma moedinha e, por trinta centavos, comprar um pedaço de pão numa das dezenas de milhares de padarias do País.

Ao mesmo tempo, como é precioso! Se o leitor fosse colocado no meio da floresta e recebesse a ordem de produzir pão, quem seria capaz de fazê-lo? Quem saberia, dentre a vegetação silvestre, encontrar os pés de trigo selvagem? Quem saberia preparar o solo e plantar a quantidade necessária? Quem saberia colher, secar e triturar os grãos, preparar a massa, arranjar fermento e acender o fogo? O máximo que a maioria de nós conseguiria fazer seria gastar energia e permanecer de barriga vazia. Mesmo com cinco, dez ou trinta pessoas ajudando, o resultado seria o mesmo. Nós sabemos fazer projeções em uma planilha de Excel, dirigir veículos ou fazer pagamentos via Internet. No entanto, não sabemos produzir o pão que nos manterá vivos amanhã.

Todos os bens e serviços do planeta contém algum trabalho. O trabalho é um dos componentes da riqueza. No entanto, seriam ingênuos aqueles que afirmam ser a riqueza fruto exclusivo do trabalho braçal. Afirmariam que trabalho, por conta própria, gera as riquezas da humanidade e que o resto é apropriação indébita do esforço do trabalho.

Na verdade só existe riqueza quando existe inovação. Mesmo no caso de um simples pedaço de pão, ele só pode existir devido às invenções de pessoas ao longo de milhares de anos. Se não houvesse aquele que descobriu a semente, aquele que aprendeu a lidar com o solo ou que conseguisse, pela primeira vez, realizar os processos descritos acima, hoje não haveria pão. Se isso é verdade para aquele simples alimento, o que dizer de um computador de última geração? Dentre os milhares de dólares que se paga por um computador avançado, quanto disso é necessário para custear o trabalho braçal de montagem? Por que o computador avançado vale alguns milhares de dólares enquanto o modelo de cinco anos atrás não vale mais nada? Ambos usam a mesma quantidade de mão-de-obra e materiais para serem produzidos...

A verdade é que a riqueza nada mais é do que o fruto da genialidade humana e da insistência de homens e mulheres em fazer coisas melhores. A verdadeira riqueza está em criar coisas, é isso que nos distingue dos animais. Os seres humanos só são completos quando eles são capazes de criar. O computador avançado vale mais porque nele se agregaram as criações mais recentes permitidas pela inesgotável criatividade humana.
Produzir é diferente de consumir. É impossível uma pessoa produzir todos os bens de que necessita para levar uma boa vida. Para suprir a diferença, cada pessoa tem de obter externamente os bens que não consegue criar por conta própria. Para esse fim, existem duas e apenas duas formas possíveis de se obter bens materiais.

A primeira é a troca, a entrega de valor pelo valor. Se uma pessoa tem pão e outra tem peixe, elas podem trocar, usando a taxa de conversão que for aceitável para ambas. A troca só existe se for boa para ambas as partes porque, do contrário, um lado se recusará a trocar. Uma característica intrínseca da troca legítima é que duas pessoas sempre saem dela mais satisfeitas do que entraram. A troca é fundamentada em valor, não em lamentos. Ela é fundamentada em respeito, não em intimidação. As únicas limitações à troca são práticas. Se você quer trocar pão pelo peixe de seu vizinho, não haverá problemas. No entanto, se você quiser trocar computadores avançados alemães por serviços de telefonia do Vietnã, isso não será nada fácil de trocar...

O que seria o dinheiro, nesse contexto? De que vale um punhado de papel velho, cortado em tiras e escrito na frente e no verso? Concretamente o dinheiro não vale nada. Quanto vale uma pilha de jornais usados? Nada. O mesmo ocorreria com o dinheiro. Ele não pode ser comido, nem bebido, nem satisfaz qualquer outra necessidade humana.

O dinheiro só tem valor por intermédio da confiança que se deposita nele. Em uma nação com confiança, as pessoas acreditam que pessoas produtivas aceitarão o seu dinheiro e entregarão em troca dele o melhor de seu trabalho e inteligência. O dinheiro é um direito que se obtém, por meio da criação de valor, sobre o valor dos outros. O dinheiro só tem valor quando pessoas produtivas dão a ele significado e endosso. O dinheiro é a forma de viabilizarem-se trocas.

Em uma nação com confiança, todos sabem o valor do dinheiro e o respeitam. O dinheiro vale exatamente o mesmo que a produção de bens reais sobre a qual o dinheiro se apóia. As pessoas sabem disso e o governo sabe disso. Sabem que não podem gastar mais do que arrecadam, pois estarão apenas gerando inflação e destruindo o valor do dinheiro.

Se a primeira forma de se obter bens é a troca, a segunda forma é a violência. Só se pode receber algo de alguém ou pela troca ou pela extorsão. Não existe nenhum outro meio. Usando-se violência, pode-se saquear em um minuto a riqueza acumulada durante toda uma vida. Às vezes a violência é praticada pelo bandido da esquina, às vezes por quadrilhas organizadas e às vezes pelo Estado, tomando bens que não lhe pertencem para suprir suas necessidades infinitas. Ao longo da história humana, a violência sempre foi a forma mais comum de se obter bens. Conquistadores, reis, imperadores e outros utilizaram-se da violência para se apropriar da riqueza de quem estava inven- tando e trabalhando. No entanto, a violência só consegue tomar, nunca consegue produzir. Nenhuma violência no mundo, aplicada sobre milhares de pessoas ignorantes, seria capaz de fazê-los produzir um simples pedaço de pão caso não saibam fazê-lo.

Mais recentemente, ao caminhar na direção da democracia liberal, a humanidade finalmente passou a dar à troca seu devido valor e criou modelos de nação em que as pessoas se submetem à lei e os direitos individuais estão no topo das prioridades. Pela primeira vez, em alguns países, o incentivo maior às pessoas foi para a criação e para a troca, não para a conquista violenta da riqueza alheia. O resultado foi uma criação de riqueza sem precedentes na história humana. A enorme riqueza que o nosso mundo moderno gerou, essa riqueza que, nos países desenvolvidos, praticamente eliminou a mortalidade infantil, permitiu às pessoas viverem quase um século e fez com que as famílias tivessem fartura digna de realeza, só foi possível em virtude da troca e de seu mensageiro, o dinheiro.

Este livro é dedicado ao dinheiro, símbolo da criatividade humana. Símbolo da vontade de homens e mulheres de melhorar de vida. A criação humana mais sublime e, ao mesmo tempo, mais demonizada.


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